terça-feira, 14 de agosto de 2012

Demissão

Venho por meio desta, apresentar oficialmente meu pedido de demissão da categoria dos adultos.
Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as idéias de uma criança de oito anos no
máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas. Quero acreditar
que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem desapercebidas por mim e quero
ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo. Quero de volta uma vida simples e sem
complicações.
Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanha de papeladas, notícias deprimentes,
contas a pagar, fofocas, doenças e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Não quero mais ter que inventar jeitos para fazer o dinheiro chegar até o dia do próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigada a dizer adeus a pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida.
Quero ter a certeza de que Deus está no céu, e de que por isso, tudo está direitinho nesse mundo.
Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero jogar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam. Quero achar que as
moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara
toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro caju, a primeira manga ou quando a jabuticabeira
ficar pretinha de frutas. Quero poder passar as tardes de verão à sombra de uma árvore, construindo
castelos no ar e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida. Quero que as maiores
competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de bola de gude ou uma pelada. Quero voltar ao
tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda, a "Batatinha
quando nasce..." e a "Ave Maria" e que isso não me incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor
idéia de quantas coisas eu ainda não sabia.
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da
existência de coisas que podem nos preocupar ou aborrecer. Quero acreditar no poder dos sorrisos,
dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da
imaginação, dos castelos no ar e na areia.
Quero estar convencida de que tudo isso... vale muito mais do que o dinheiro!


Me arrependo de ter dito: “Eu quero crescer”.    




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