domingo, 23 de setembro de 2012

Vocação para a felicidade


Não escreverei versos chorosos
cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades
dolorosas,e paixões trágicas .
Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento
de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar
a inutilidade da vida.
Não preciso morrer e ir ao céu para
encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço
terreno do aqui e do agora.
A felicidade, tal e qual o amor, está
dentro de mim e transborda em
ternuras, em melodias, em carinhos,
em alegrias, em cantos e encantos.
Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.
Faço minha estrela brilhar sem receio
dos encontros, desencontros, encantos
e desencantos que o amor me diz.
Contrariedades? Eu as tenho!
E quem não as tem na vida secular?
Escassez de dinheiro?
Nem é bom falar.
Amores não correspondidos?
Separações? Rejeições?
Saudades incuráveis?
Carinhos reprimidos, ternuras
guardadas, sem a contra parte
do outro?
Eu tenho aos montões.
Sou o rei das perdas, necessárias
ao meu crescimento.
Contudo quem não soube a sombra
não sabe a luz.
E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.
Mas pra que me debruçar sobre eles,
procurando a solução se a própria
vida me conduz a resposta final?
Sem medo de ser feliz vou por
aqui e por ali…
Por onde os caminhos, as trilhas,
os atalhos me levarem, traçando
meu rumo.
Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que a felicidade
é o contrário da tristeza?
Tristeza é só uma momentânea
falta de alegria!
É, amigo, amanhã é sempre um
novo dia e quando a infelicidade
passar por aqui, minhas malas
estarão prontas para eu ir por ali.

Carlos Drummond de Andrade

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